Alergia alimentar: o que você precisa saber

alergia alimentar

A alergia alimentar manifesta-se com a mesma resposta típica de hipersensibilidade, própria a todas as alergias. O antígeno é um alimento que estimula a produção de anticorpos, os quais provocam uma reação sempre que tal alimento for ingerido. As manifestações alérgicas são devidas à liberação de histamina e de serotonina, hormônios responsáveis por essas reações alérgicas intensas. Os principais tecidos afetados estão localizados no nariz, nos brônquios (pulmão), no trato gastrintestinal, na pele e no cérebro. As respostas mais comuns aos antígenos alimentares são o vômito, a diarreia, as cólicas, a náusea (enjoo), a distensão abdominal (aumento e enrijecimento do abdômen) e as dores abdominais. Se forem ingeridas grandes quantidades de alérgenos alimentares (substância produtora de alergia), podem ocorrer eczema, urticária, rinite e asma.

Muitos alimentos que atuam como antígenos são inativados pelo processo digestivo. As crianças são mais sujeitas a apresentar alergias alimentares que os adultos, pois a eficiência reduzida do trato gastrintestinal acarreta a digestão incompleta dos alimentos a serem absorvidos, que, desse modo, se tornam antígenos em potencial.

As manifestações da alergia alimentar podem ser imediatas ou retardadas. As reações imediatas ou evidentes ocorrem dentro de 1 hora após a ingestão do antígeno, porém são menos comuns e potencialmente colocam a vida em risco. A quantidade de alérgeno alimentar ingerido não é proporcional à resposta, que é uma reação previsível, semelhante a um choque, que ocorre geralmente em um único órgão. As reações alérgicas retardadas ou respostas ocultas podem ocorrer acima de cinco dias após a ingestão do alimento agressor. Elas correspondem a cerca de 95% de todas as alergias alimentares e podem estar relacionadas com perturbações na digestão ou na absorção. Não apresentam riscos de vida, mas constituem uma fonte crônica de morbidade, e podem resultar em eventos de resposta imediata.

Os antígenos alimentares são fáceis de ser identificados nos casos de reações imediatas e difíceis nos casos de reações retardadas.

O tratamento da alergia alimentar é feito pela supressão dos alimentos que provocam a reação – eles devem ser identificados a fim de serem eliminados da dieta. Quando um alimento se torna suspeito, ele deve ser retirado da dieta por 6 semanas. Se os sintomas desaparecerem durante esse período, o alimento é reintroduzido para se verificar se os sintomas reaparecem. Porém, esse tipo de dieta de eliminação só é útil quando um único alimento é responsável – quando há vários alimentos desencadeantes, é necessária uma dieta de eliminação mais rígida.

Qualquer alimento pode desencadear reação alérgica. No entanto, leite de vaca, ovo, soja, trigo, peixe e crustáceos são os mais envolvidos. A sensibilização a esses alimentos (formação de anticorpos IgE) depende dos hábitos alimentares da população. O amendoim, os crustáceos, o leite de vaca e as nozes são os alimentos que com maior frequência provocam reações graves (anafiláticas). Entretanto, o teste de alergia alimentar é fundamental para o diagnóstico.

Os alimentos podem provocar reações cruzadas, ou seja, alimentos diferentes podem induzir respostas alérgicas semelhantes no mesmo indivíduo. O indivíduo alérgico ao camarão pode não tolerar outros crustáceos. Da mesma forma, indivíduos alérgicos ao amendoim podem também apresentar reação ao ingerir soja, ervilha ou outros feijões.

As reações adversas aos conservantes, corantes e aditivos alimentares são raras, mas não devem ser menosprezadas. O corante artificial tartrazina (FD&C amarelo#5), sulfitos e glutamato monossódico são relatados como causadores de reações. A tartrazina pode ser encontrada nos sucos artificiais, gelatinas e balas coloridas enquanto o glutamato monossódico pode estar presente nos alimentos salgados como temperos (caldos de carne ou galinha). Os sulfitos, preservativos químicos usados em alimentos (frutas desidratadas, vinhos, sucos industrializados) e medicamentos, têm sido relacionados a crises de asma em indivíduos sensíveis.

Abaixo listamos os maiores alimentos alérgenos:
1. Leite – Cerca de 90% dos casos de alergia alimentar estão relacionados ao leite de vaca e surgem na infância precoce. Ao contrário da intolerância à lactose, distúrbio que envolve apenas a deficiência de uma enzima, a alergia às proteínas do leite envolve uma resposta maior do sistema imunológico. Tal resposta pode ser imediata (os sintomas aparecem poucas horas após o consumo) ou tardia (os sinais podem levar de três horas a três dias para aparecer). A alergia tardia ao leite de vaca é a mais comum e, por seus sintomas aparecerem muito tempo depois do consumo do alimento, tem seu diagnóstico bastante dificultado.

2. Ovo – A albumina, proteína presente na clara do ovo, usada em marshmallows, comidas congeladas e outras misturas para alimentos, também está entre os principais alimentos alérgenos.

3. Trigo, aveia, cevada e centeio – O glúten presente nesses alimentos pode causar alergia em crianças portadoras de doença celíaca (doença relacionada à intolerância ao glúten).

4. Peixe – O peixe estragado apresenta altos teores de histamina (que causa reação alérgica intensa), mesmo antes que haja alteração do sabor.

5. Frutos do mar – Caranguejo, lagosta e camarão podem desencadear reações severas de alergia. Na China, por exemplo, ocorrências alérgicas pela ingestão de camarão são as mais comuns.

6. Tomate – A reação alérgica a tomate está normalmente associada ao uso muito frequente desse alimento na dieta.

7. Frutas cítricas – Pessoas alérgicas a frutas cítricas podem facilmente apresentar carência de vitamina C. Nesse caso, é preciso recorrer a uma fonte suplementar dessa vitamina.

8. Refrigerante à base de cola e chocolate – A sensibilidade a esses alérgenos é facilmente identificada.

9. Leguminosas – Soja, ervilha e feijões também estão na lista dos alimentos que mais podem causar alergias.

10. Milho – O milho e outras fontes, como amido de milho, óleo de milho e farinhas à base do grão, podem acarretar problemas alérgicos.

11. Castanhas e amendoim – Quando não controladas, as aflatoxinas presentes nesses alimentos podem causar reação alérgica.

12. Temperos – Entre as principais especiarias da culinária, a canela é um alérgeno comum.

13. Aditivos alimentares – Corantes, conservantes e aditivos artificiais são alérgenos. Os sulfitos, aditivos muito comuns utilizados em picles, cervejas, vinhos, refrigerantes de cola, frutas e vegetais secos, cerejas ao marrasquino, batatas secas ou congeladas, também podem provocar reações alérgicas.

14. Fermento natural – O fermento natural, muito presente em pães, também pode trazer reações alérgicas no organismo.

Existe algum meio de prevenir a alergia alimentar?
Algumas orientações devem ser dadas aos pais de recém-nascidos ou irmãos atópicos. O estímulo ao aleitamento materno no primeiro ano de vida é fundamental, assim como a introdução tardia dos alimentos sólidos potencialmente provocadores de alergia. Recomenda-se a introdução dos alimentos sólidos após o 6º mês, o leite de vaca após 1 ano de idade, ovos aos 2 anos e amendoim, nozes e peixe, somente após o 3º ano de vida.

Muitas pessoas acreditam ter alergia alimentar, mas, na realidade, menos de 1% delas possui alergias reais. A maioria dos sintomas é causada por intolerância a alimentos.

Dr André Aguiar
Dr André Aguiar

O Dr Andre Aguiar Gauderer é formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) desde 2004 e fez residência em Otorrinolaringologia pela UFRJ. Fez Pós-Graduação em Alergia e Imunologia pela UFRJ e estagiou no serviço de Alergia e Imunologia da Uni Rio. Atualmente é chefe do Serviço de Alergia da Policlínica de Botafogo no Rio de Janeiro. É membro da IAPO, Interamerican Association of Pediatric Otorhinolaryngology, membro da Sociedade Brasileira de Alergia e Imunologia, membro da Sociedade de Otorrinolaringologia do estado do Rio de Janeiro, membro do Colégio Americano de Alergia e Imunologia e membro da Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia.

2 respostas

  1. Boa tarde, há 9 anos atrás fui diagnosticada com APLV, aos 20 anos de idade. Cortei totalmente o leite e todos os derivados da minha alimentação durante todos esses anos.
    Esse ano refiz todos os exames de sangue para verificar o grau da alergia, pedido por meu médico alergista. Me surpreendi quando ele me disse que os resultados foram ótimos e eu não tinha mais a alergia. Comecei semana passada a introdução de alimentos com leite novamente, durante 3 dias consumi requeijão zero lactose no café da manhã (ele disse que seria melhor começar com o zero lactose pra não causar uma intolerância), não senti nada, nem tive nenhuma reação. Ontem consumi queijo branco no café da manhã e tbm não senti nada, porém a tarde comi 2 cookies negresco e um pequeno pedaço de queijo branco em seguida, comecei a sentir um leve desconforto na garganta, uma espécie de pulsação com queimação como se fosse inchar igual há 9 anos atrás.
    Agora não sei o que fazer, se continuo tentando ou se paro novamente com o consumo de leite.
    É possível o resultado dar negativo para a APLV e quando eu consumir algo voltar tudo outra vez?

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